segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

10 FILMES DE PRÉDIO



10 Filmes de prédio


Uma lista de filmes (em ordem cronológica) em que se põe à prova a pretensa segurança trazida pelos edifícios urbanos da sociedade pós-industrial. Seja tendo como cenário edifícios centenários, majestosos e luxuosos arranha-céus, ou verdadeiros cortiços, prédios comerciais ou residenciais, esses filmes trazem vários aspectos similares que revelam os medos ocultos que esses gigantes de concreto inspiram: os perigos e ameaças que seus próprios sistemas de segurança podem representar para os seus moradores ou frequentadores, seus ambientes estreitos e claustrofóbicos, suas sacadas vertiginosas, o isolamento, solidão e desorientação que a vida em apartamento pode gerar, o anonimato da vizinhança, etc. Essa lista refere-se mais especificamente a filmes em que a história se passa majoritariamente em um prédio, procurei não incluir, portanto, filmes em que a trama se passa em vários prédios (como em O profissional), filmes em que somente uma cena específica se passa em um prédio (algo muito comum em filmes de assalto), filmes em que apenas um apartamento é o cenário principal, ou aqueles em que a trama se concentra em um único morador, em que os outros moradores do prédio quase não aparecem. Nos filmes aqui listados, o prédio é mais do que apenas um cenário, ele acaba se tornando também um dos personagens principais: seus apartamentos, o hall de entrada, seu topo, o bar e restaurante, a academia, a área de lazer, escadas, elevadores, sacadas, dutos de ventilação, lavanderia, corredores estreitos, o sistema de vigilância, portas automáticas, geradores elétricos, etc.: todos esses elementos acabam se mostrando indispensáveis para que a trama se desenvolva.

Shivers, 1975 (Calafrios)


Em seus filmes, Cronenberg aborda como ninguém todos os pesadelos que envolvem a estranheza e repugnância para com o próprio corpo. Seja em Rabid (1977), Videodrome (1983), The Fly (1986), Naked Lunch (1991), no recente A dangerous method (2011), ou neste insólito filme de zumbi, o principal medo parece se alojar nas mudanças, nos processos fisiológicos e na degradação do próprio corpo, bem como na sensação de desconhecimento e no sentimento de rejeição para com ele. Uma das principais inspirações de Shivers é claramente The night of the living dead (1968), de Romero. Cronenberg leva adiante a máxima de Romero de que o monstro mais aterrador não é identificável, ele pode muito bem ser o seu vizinho. No filme, os moradores de um condomínio de luxo decadente são aos poucos contaminados por uma praga transmitida por um grotesco ser rastejante que faz com que todos se transformem em uma espécie de zumbis maníacos sexuais.


Rosemary's Baby, 1986 (O Bebê de Rosemary)


É verdade que Rosemary’s Baby, um dos filmes de terror mais importantes da história do cinema, considerado o segundo filme da “trilogia do apartamento” de Polanski, juntamente com Repulsion (Repulsa ao sexo, 1965) e Le locataire (O inquilino, 1976), poderia ser classificado muito mais como um filme de apartamento do que de prédio, no entanto, não se pode negar a importância que o antigo e assustador edifício Dakota, uma espécie de refúgio para a aristocracia de Nova York, possui, como um todo, para a criação da atmosfera opressiva e hostil que vai, cada vez mais, sufocando a personagem em seus aparentes (ou não) delírios e paranoias.

Dèmoni 2, 1986 (Demons 2: Eles Voltaram)


Diferente de Shivers, este é de fato um autêntico filme de zumbi. Embora muito inferior ao primeiro Dèmoni, que está entre os meus 10 filmes prediletos de zumbi, igualmente dirigido por Lamberto Bava e escrito em parceria com o também produtor Dario Argento, mestre do giallo italiano, Dèmoni 2 é uma espécie de filme “doente”, como diria Truffaut, ou seja, um filme cujo projeto mostra grande potencial, mas que, por circunstâncias diversas, acabou sendo mal realizado. É possível identificar, como um filólogo o faria, como os próprios realizadores do filme o auto-sabotaram: havia uma grande ideia que envolvia uma grávida tendo o ventre rasgado pelo seu próprio infante zumbificado, mas tanto o diretor quanto o produtor preferiram não se arriscar, optando por um final feliz totalmente incongruente com as regras que a própria trama havia estabelecido. Mas o filme traz grandes momentos para fãs de zumbis e uma boa dose de sangue e gore. Icônica a imagem em que a horda de zumbis espreita, do alto das escadas, com seus olhos amarelos, as suas vítimas encurraladas no estacionamento. O filme foi claramente inspirado por Shivers, Videodrome e Gremlins, ainda que, curiosamente, antecipe a trama de Gremlins 2, que se passa justamente em um edifício.

Die Hard, 1988 (Duro de Matar)


Simplesmente o filme que melhor define o gênero de ação dos anos 80 e início dos 90 (e, portanto, um dos melhores filmes de todos os tempos). Um dos principais elementos característicos do tema filmes de prédio explorado com maestria por Duro de matar (mas que também já se encontra em Dèmoni 2) é a situação trapped in the building (presos no prédio), algo que vai se repetir na maioria dos filmes listados aqui (Gremlins 2, Rec, La horde, The Raid e Dredd), em que as pessoas se veem impedidas de sair de um prédio, tendo que lidar sozinhos com alguma grande ameaça interna. Algo que só se agrava, como no caso de Duro de matar, quando a comunicação com o ambiente externo é interrompida, sem que, muitas vezes, ninguém mais, além das pessoas presas no prédio, saiba o que está acontecendo.

Gremlins 2: The New Batch, 1990 (Gremlins 2: A Nova Geração)


Um dos maiores clássicos da Sessão da tarde, programa vespertino que formou toda uma geração de cinéfilos no Brasil, mas que, já há muito, não cumpre essa função, entre outros motivos, por ter se rendido ao politicamente correto e aos ditames da classificação indicativa. Escrito por Chris Columbus, escritor de grandes clássicos que marcaram a geração dos anos 80 (Os Goonies, O Enigma da pirâmide) e diretor de outros tantos (Uma noite de aventuras, Esqueceram de mim 1 e 2), dirigido por Joe Dante (que dirigiu nada menos que Viagem ao mundo dos sonhos, Viagem insólita, Meus vizinhos são um terror, Pequenos guerreiros), produzido pelo Midas dos filmes de comédia e aventura dos anos 80, Steven Spielberg, com trilha sonora do grande Jerry Goldsmith e com as criaturas criadas pelo mestre Rick Baker, Gremlins 2 é um dos filmes que melhor define um tipo de cinema que era feito para jovens nos anos 80 e início dos 90, que não os tratavam como completos imbecis incapazes de distinguir ficção de realidade e que precisavam ser protegidos de toda e qualquer exposição à violência, sexo, comportamentos tidos como inadequados, etc. A cena mais antológica, para mim, é sem dúvida quando, em uma paródia de Rambo 2, Gizmo finalmente toma coragem e decide enfrentar os monstros que, literalmente, nasceram de seu próprio interior. 

[Rec], 2007



Considero Rec, Juntamente com 28 days later (Extermínio, 2002), um dos principais responsáveis pelo revival de filmes de zumbi, que atualmente desfrutam seus dias de consagração com a febre zumbi que se alastrou com o sucesso da série de TV baseada nos quadrinhos criada por Robert Kirkman, The walking dead. Se Extermínio conferiu agilidade aos zumbis, elevando seu nível de ameaça, Rec reapresentou os zumbis como monstros realmente assustadores, em uma narrativa que soube criar uma atmosfera de suspense e terror como há muito não se via nos filmes de zumbis, afinal, Shaun of the dead (2004) e Fido (2006), haviam eliminado toda a credibilidade que esses monstros possuíam como verdadeiros símbolos de pesadelos humanos.

La horde, 2009 (Legião do Mal)


Filme de zumbi francês que todo amante desses monstros tem que assistir. La horde guarda uma grande semelhança com dois filmes listados aqui: The raid e Dredd, nos quais um grupo de policiais se encontram na situação trapped in the building que havíamos descrito. Aqui, um grupo de extermínio invade um prédio para eliminar os traficantes que haviam matado um policial, todavia, o ataque de uma horda de zumbis obriga policiais e traficantes a se unirem. O ponto alto do filme se dá no desenvolvimento da relação de ódio e respeito mútuo entre o líder dos policiais e o líder dos traficantes.

Attack the Block, 2011 (Ataque ao Prédio)


Ataque ao prédio é um filme de aventura que possui tudo aquilo que havíamos declarado se encontrar ausente nos filmes dirigidos ao público jovem de hoje. No filme, uma gangue de assaltantes adolescentes, que aspiram entrar no mundo do tráfico, é perseguida por monstros alienígenas! Mas só mesmo o cinema britânico para nos oferecer algo assim, quem conhece Skins e Misfits sabe que os ingleses não costumam poupar seus jovens.

Serbuan maut/The raid: redemption, 2011 (Operação Invasão)



Juntamente com Dredd, The raid é um dos melhores filmes de ação dos últimos anos e uma grata surpresa. Muito se especulou o quanto Dredd é devedor de The raid, que o primeiro é quase um rip-off deste último: nada mais do que exagero. Se Dredd copiou The raid, então este último copiou La horde. Todavia, apesar dos três filmes apresentarem uma situação bastante similar, os personagens e a trama de cada um são muito diferentes. E nenhum dos outros dois possui o que The raid tem de melhor: algumas das lutas coreografadas mais espetaculares já vistas em um filme de ação!

Dredd, 2012


Após o vexame que foi o filme protagonizado por Stallone, nenhum fã de quadrinhos esperava muito da nova adaptação das histórias do Juiz casca-grossa, bad-ass-motherfucker de Mega City, mas eis que Dredd se revelou um baita filme: com uma trama concisa, simples, bem amarrada, produção módica, mas extremamente competente e inovadora, nível de violência adequado ao que o personagem exige, o filme provou mais uma vez, assim como 300 e Sin City já haviam mostrado, que basta respeito ao material original, criatividade e seriedade para que as adaptações de quadrinhos sejam bem sucedidas esteticamente, a despeito do fracasso na bilheteria, pois são filmes assim que se tornam cults, resgatam seu lucro no mercado de home-vídeo e se tornam referências para as próximas produções. 

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