quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

BLAST OF SILENCE

Arte de Sean Phillips (Marvel Zombies, Criminal, Fatale).

Blast of Silence, de Allen Baron, com Allen Baron, 1961.

"Remembering, out of the black silence, you were born in pain... you were born with hate and anger built in. Took a slap on the backside to blast out the scream, and then you knew you were alive. Later you learned to hold back the scream... and let out the hate and anger another way".


Até pouco tempo atrás, Blast of Silence era uma raridade conhecida apenas por alguns entusiastas de filmes noir. O longa quase cai no esquecimento, não fosse o resgate feito pela Criterion. Aos poucos, ele vem sendo considerado o último noir do período clássico - antes, esse título pertencia ao Marca da Maldade (1958). No entanto, diferente do filme de Orson Wells, produzido por um grande estúdio, Blast of Silence vincula-se sobremaneira às produções de baixo orçamento típicas da poverty row (como o excelente Desvio, 1945). Blast of Silence é uma pequena obra-prima: um thriller seco, mordaz e direto, semelhante ao modo como o protagonista lida com a vida e executa seu ofício. A cena de abertura é marcante e fundamental para a história: a câmera desloca-se, com uma urgência imposta pela trilha sonora, de uma escuridão total em direção a um brilho fugaz, que lentamente revela-se como uma luz no fim de um túnel, tudo embalado pelos gemidos do avanço de um trem sob os trilhos (e pelos gritos de uma parturiente, seguidos pelo choro de um bebê), enquanto a voz severa do narrador reflete sobre nascimento, dor e vida. A narração em segunda pessoa é o grande trunfo do longa: íntima e complacente, a voz acaba sendo mais reveladora quanto mais tenta ocultar - por cumplicidade - as verdadeira intenções do protagonista. Apesar de acabar se destacando, a narração em off é auxiliada pela fotografia sombria, pela ótima edição, pela excelente trilha sonora e pelo clima semi-documental, para intensificar ainda mais a atmosfera de solidão e amargura da jornada do matador de aluguel Frank Bono, interpretado com naturalidade e firmeza por Allen Baron. Um filme para ser degustado por todo amante do cinema noir.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

O ENIGMA DO OUTRO MUNDO


Revisitando The Thing (O Enigma de Outro Mundo), 1982.

Melhor Carpenter! Melhor filme com inspiração em Lovecraft (se na versão de 1951, a Coisa se assemelha aos Anciões, na versão de Carpenter, ela remete claramente aos Shoggoths)! Melhor "rip-off" de Alien! Trilha sintetizada enigmática e sutil do mestre Morricone. Um clássico sci-fi horror!

P.S.: Fujam do prequel (The Thing, 2011): - uma verdadeira bomba.

GAROTA EXEMPLAR



Gone Girl (Garota Exemplar), de David Fincher, com Ben Affleck e Rosamund Pike.


Garota Exemplar, apesar da chatice do início, da insuportabilidade do romance esnobe e pedante, do aparente absurdo da motivação por trás do crime, acabou me surpreendendo do meio pro fim, dando sentido a babaquice que se tem que aturar no começo do filme. O saldo é positivo. Achei muito bom. David Fincher é, de fato, um grande diretor.

PERSEGUIÇÃO VIRTUAL


Open Windows (Perseguição Virtual), de Nacho Vigalondo, com Elijah Wood e Sasha Grey, 2014.

Perseguição Virtual é um thriller bem divertido: a história gira em torno de uma famosa atriz de filmes de ação (não me refiro à carreira anterior da Sasha Grey na "vida real", mas de sua personagem no filme) e um fã obcecado que, após receber a notícia de que sua musa havia cancelado o jantar que ele ganhara em um concurso, aceita a contragosto a oferta do hacker Chord em vigiá-la como uma sorte de vingança, porém, logo ele se vê prisioneiro de um esquema perigoso e mortal. Achei bem legal como o filme explora o quanto nossa privacidade e mesmo segurança estão à mercê dos sistemas e aparelhos digitais dos quais nos tornamos cada vez mais dependentes. É um filme regular, com uma trama cheia de reviravoltas bem boladas; não vai mudar a vida de ninguém, mas entretém.

MIRACLEMAN


Miracleman, de Alan Moore.

Verdadeiramente uma obra magistral! Tudo aquilo que passou a definir, para o bem ou para o mal, a era moderna dos quadrinhos de super-heróis já estava in nuce nessa obra. Merece ser lançada com toda a pompa pela Panini, em capa dura e recheado de extras. Acho que a "recolorização", feita pelo grande Steve Oliff, não deturpou em nada a arte, muito pelo contrário; além do mais, as histórias lançadas na Warrior (mais ou menos até a metade do segundo arco), originalmente em preto e branco, já haviam passado por duas colorizações. Ainda assim, seria perfeito se relançassem esse material da Warrior em preto e branco também.

LUCY


Lucy, de Luc Besson, com Scarlett Johansson, Morgan Freeman e Min-sik Choi 2014.

Pense num filme apelão, "mentiroso" que só a desgraça (se bem que o Morgan Freeman aparece o tempo todo pra explicar as coisas, aí o jeito é acreditar hehe), mas divertido pacas! A história é basicamente um rip off de Sem Limites (2011): Lucy absorve por acidente uma grande quantidade de uma droga experimental e, com isso, passa gradualmente a aumentar a utilização de sua capacidade cerebral até atingir os 100%. Pra se ter uma ideia de como o filme é exagerado, basta dizer que Lucy ownava o Neo fácil, mesmo sem voar (se bem que eu acho que ela poderia se o orçamento do filme permitisse rsrs). Apesar de tudo, o filme é bem divertido e não deixa de dar o que pensar.

COERÊNCIA


Coherence, de James Ward Byrkit, 2013.


Coerência é uma ficção científica hardcore bastante intrigante. A narrativa basicamente explora as possibilidades aventadas pela teoria "gato de Schrödinger" depois que, no filme, um estranho fenômeno acontece durante a passagem de um cometa. A trama é, de fato, bem bolada, mas o formato escolhido pelo diretor, provavelmente para diminuir os custos de produção, um misto de narrativa tradicional com ângulos e movimentos de câmera típicos de mockumentário e found footage, acaba sendo muito dispersivo, enfadonho e frustrante. Acho que faltou também trabalhar melhor a percepção dos personagens diante de uma situação tão absurda - eles aceitam o que está se passando com muita rapidez e naturalidade, e a sensação de que tudo é um fingimento, um jogo entre eles, é grande, ou seja, você é "tirado" várias vezes do filme, não há uma boa imersão; em dado momento, parece que os atores estão se esforçando pra não cair na gargalhada. No entanto, pra quem é fã de ficção científica, o filme é realmente um prato cheio. Próximo do final, tudo fica bastante interessante e surpreendente. Vale a pena pra quem é fã do gênero e tem paciência. 

P.S.: Acho que a protagonista do filme, Emily Baldoni, daria uma ótima Capitã Marvel.

O ABUTRE


Nightcrawler (O Abutre), de Dan Gilroy, com Jake Gyllenhaal, Rene Russo e Bill Paxton, 2014.

Gyllenhaal está formidável em Nightcrawler, entregando uma atuação visceral, porém nada histriônica: seu Louis Bloom é tão fascinante quanto repulsivo. Não obstante, o filme não se sustenta apenas no trabalho do ator - é um thriller mordaz sobre um sujeito de grande inteligência, mas que, sem uma educação formal, vê negada qualquer oportunidade de ingressar numa carreira, até descobrir, aliando sua sagacidade à inescrupulosidade, um habitat natural no mundo cínico da mídia sensacionalista que se alimenta de tragédias e da violência urbana.

O PREDESTINADO



Predestination (O Predestinado), 2014, dos irmãos Spierig, com Ethan Hawke e Sarah Snook.


Um bom filme de ficção científica. Adianto que, após o início, que tem um clima bastante familiar ao que já se viu em histórias de "policiais do tempo" (como no recente Looper), o filme parece se tornar muito mais um drama do que uma ficção científica (o que alguns podem achar bem monótono), porém, já na metade do filme, que tem mais ação e suspense, é possível perceber a importância dessa parte dramática para aquilo que, no filme, é propriamente ficção científica. A história dá um bom nó na cabeça, mesmo que em alguns momentos se torne previsível.

SABOTAGEM


Sabotage, de David Ayer, com Arnold Schwarzenegger, Sam Worthington, Joe Manganiello, Josh Holloway, Mireille Enos, Olivia Williams e Terrence Howard, 2014.

O velho Schwarza aos poucos vai voltando à forma. Nesse filme, ele abandona o tom de auto-paródia que adotou em papéis mais recentes e entrega uma atuação convincente como um líder veterano de uma força tarefa. O elenco de apoio é muito bom: Joe Manganiello tem que ser escalado para um filme de super-herói - ele esteve na disputa pelo papel de Superman e Batman, mas acho que ficaria melhor como vilão. Acho que o filme do Esquadrão Suicida está em ótimas mãos com David Ayer (que foi roteirista de O dia de treinamento), o diretor prova aqui que sabe como mostrar uma força de elite atuando, convivendo e se esfacelando. Embora os outros membros da equipe não tenham tanto destaque quanto o personagem de Schwarzenegger, eles possuem características bem marcantes que os distinguem bem, tornado-os interessantes, lembrando - claro que não de forma tão icônica - a equipe do Predador. Uma boa pedida para os fãs de filme de ação mais pé no chão e sem muitas firulas.