domingo, 20 de setembro de 2015

RABID DOGS



Cani arrabbiati (Rabid Dogs), de Mario Bava, Lamberto Bava, 1974.

Assistindo ao excelente The Hitch-Hiker (1953), de Ida Lupino (atriz que interpretou várias femme fatales e que se tornou, se não a única, a mais importante diretora de filmes noir), lembrei de Rabid Dogs, do mestre Bava e de seu filho. O filme bem poderia ter sido uma fonte importante para Tarantino em seu Reservoir Dogs, não obstante, Rabid só conseguiu ser lançado, devido aos esforços da atriz Lea Lander, após Reservoir, em 1998. Tensão, agonia e crueza do início ao fim. Final desesperançoso!

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

PAGANDO POR SEXO




Pagando por sexo, Chester Brown

HQ autobiográfica do artista indie canadense Chester Brown. Uma leitura bastante agradável e divertida; a personalidade e o comportamento peculiar de Chester (um dos seus amigos revela em um apêndice que costuma chamá-lo de "robô") rende vários momentos engraçados e, pelo visto, não intencionais. Após começar a se utilizar dos serviços das profissionais do sexo, Chester passa a refletir e a elaborar um ponto de vista bastante crítico em relação ao que ele chama de "amor romântico", que, diferente do que se costuma acreditar, possui data e local de nascimento. Além disso, a HQ também traça uma rica discussão sobre a prostituição, se ela é uma prática indigna e degradante ou tão banal, embora socialmente relevante, quanto várias outras (as comparações entre a prostituição e o trabalho do artista gráfico são ótimas), se ela deve ser descriminalizada, regulamentada, etc. Todas essas reflexões são levantadas, de forma leve e nada maçante, nos momentos em que Chester fala consigo mesmo, nas conversas com seus amigos e amigas ou com as próprias prostitutas, e no rico apêndice ao fim da obra. Algo que a HQ também nos leva a pensar é sobre como, apesar dos pesares, há uma certa “aura”, uma certa “mística” e “glamourização” em torno da vida das profissionais de sexo, são vários os “best-sellers” autobiográficos de ex-prostitutas, mas o mesmo não ocorre com aqueles que recorrem regularmente aos seus serviços, é mesmo possível que eles sejam tão ou mais difamados do que elas.

PÉTALAS


Pétalas, de Gustava Borges, com cores de Cris Peter.

Uma história singela e tocante sobre uma raposinha e um pássaro que se encontram numa floresta durante um rigoroso inverno e, ajudando-se mutuamente, aprendem juntos o valor de uma verdadeira amizade. É o tipo de história para "aquecer" o coração. O quadrinho é inteiramente sem falas, dá para ler numa só tacada, não obstante, assim como vários trabalhos de outro Gustavo, o Duarte, entrega uma narrativa gráfica dinâmica e divertida de se acompanhar. Gustavo Borges é um jovem de apenas 20 anos, mas a força é poderosa nele! Seu belo traço lembra o de Vitor Cafaggi em Valente (há uma arte do Vitor nos extras). Achei o trabalho dele muito mais maduro (não falo só da arte, mas também do roteiro) do que o de outro jovem artista revelação, Felipe Nunes, de 19 anos, autor de Klaus. A arte de Klaus é bem bonita, contudo, sinceramente creio que falta maturidade no roteiro. O álbum Pétalas foi financiado pelo Catarse, ultrapassando sua meta inicial em mais 1000%. O acabamento do álbum é bem caprichado, lombada quadrada, verniz localizado, mas tem poucas páginas, só 55; o papel não é couché, mas é um offset de boa gramatura. Queria ter financiado no Catarse, pois, como o projeto ultrapassou a meta, foi sendo liberado vários brindes.

Comprei por aqui (frete grátis): http://www.lojamarsupial.com.br/petalas

Blog do Gustava Borges: http://edgarhq.blogspot.com.br/

TALCO DE VIDRO



Talco de Vidro, Marcelo Quintanilha, Veneta, 2015. 

A arte e o texto de Quintanilha são de uma beleza e naturalidade embasbacantes! O modo como ele consegue capturar a concretude da vida cotidiana e elaborar um retrato extremamente familiar e desnudado da realidade brasileira, quer seja na representação de rostos, posturas, moradias e ambientes ou nas vozes com que dá vida aos seus personagens - com todos os trejeitos e manias que enriquecem a oralidade - ou ainda no caráter palpável e verdadeiro de suas narrativas, provoca-nos a lançar um olhar revigorado sobre uma efetividade que, mesmo circundante, sempre acaba por tornar-se distante devido a uma indiferença que se vai criando diante de tudo que nos é corriqueiro.

IDA LUPINO


On Dangerous Ground (Cinzas que queimam), 1951.


On Dangerous Ground, 1951, é o segundo filme dirigido por Ida Lupino que assisto. O outro foi The Hitch-Hiker (O mundo odeia-me), 1953, mas antes já havia conferido seu talento como atriz em vários filmes noir. Seu trabalho na direção é sem concessões, firme e com visão própria - autoral. O modo como ela se posiciona no interior de um movimento no qual a ansiedade em torno das relações de gênero e sexualidade exerce papel crucial, oferecendo uma perspectiva que não cai em meros atalhos e lugares comuns, é uma contribuição de suma importância ao cânone noir e ao cinema de modo geral.