domingo, 3 de abril de 2016

DEMOLIDOR DA NETFLIX, SEGUNDA TEMPORADA - PARTE I




Demolidor, Segunda temporada - Parte I 


Assisti até o episódio 6. Acho que já dá para dizer que a série manteve a qualidade e não ficou devendo em nada à primeira temporada, ainda que a primeira tenha desde logo a vantagem de ser mais contida, mas acho que só saberemos se a segunda superou esse desafio ao fim dela. 
O diferencial da série se manteve: bom ritmo e nenhum filler. Entre outros apuros técnicos que tornam a qualidade da série excelente, aprecio particularmente a fotografia, que, embora escura, possui um cuidado grande no uso das cores, principalmente com o amarelo para indicar decadência, podridão – e, ao mesmo tempo, familiaridade, proteção –, não se rendendo à fetichização de uma estética noir mais padrão, e sim buscando alcançar profundidade nesse seu mergulho na perspectiva noir de mundo. Atuações soberbas, diálogos que, pra mim, em vários momentos, conseguem ser extasiantes pela boa carga dramática e alta penetração psicológica, embora quase alcançando os limites da pieguice algumas vezes. O roteiro, apesar de consistente, possui algumas pontas soltas, não diria furos, mas coisas que não ficam bem resolvidas, como, por exemplo, o destino do cachorro do Justiceiro: toda uma relação de companheirismo é construída, de forma muito sutil, nas entrelinhas mesmo, entre Castle e o cachorro (que me lembrou bastante uma excelente história nas HQ’s, desenhada por Mark Teixeira, sobre um cão chamado Max), que rende um ótimo momento dramático em determinada cena, porém, tudo isso é descartado, pelo menos foi o que achei, quando se esquecem do pobre animal; e outro momento que evidencia esses lapsos é o fim do explosivo terceiro episódio e início do quarto, parece que, nesse caso, faltam cenas para ligar melhor o ínterim entre os episódios. 
Quanto ao Justiceiro, finalmente temos uma adaptação digna do personagem, o ator está simplesmente perfeito na pele do homem que declarou uma guerra solitária contra o crime. Ainda que, diferente de sua contraparte mais taciturna dos gibis, esse Frank Castle seja bem mais eloquente e arrazoado, disposto a parar e conversar com o Demolidor para justificar seus atos, não acho que isso represente uma descaracterização do personagem, mas uma abordagem diferente e necessária para a proposta de série – esse Justiceiro mais expressivo, para mim, ainda é um Justiceiro que vale. Além disso, os melhores diálogos estão exatamente nos embates verbais e conversas entre o Demolidor e o Justiceiro. Uma cena que ocorre num cemitério, por exemplo, mostra uma longa revelação feita pelo Justiceiro ao Demolidor sobre um grande arrependimento seu com relação a algo que uma vez negou à filha; a cena é demorada e quase lembra as maiores chatices de um The Walking Dead, ou seja, é um recurso comumente usado por séries de TV, o compartilhamento de uma lembrança íntima para estabelecer uma identificação com o personagem: causa uma certa irritação e frustração toda aquela lamentação, todavia, ao final da fala de Castle, percebemos que, nesse caso,o recurso foi bem empregado, entregando de modo eficiente uma boa carga emotiva.
Mas algo que vai deixar todo fã do Demolidor, de quadrinhos de super-heróis, e de histórias de ação em geral extremante feliz é a pancadaria, sem dúvida essa segunda temporada supera a primeira nas cenas de luta, inclusive com um novo plano sequência num corredor (que continua por uma escadaria), uma espécie de “reboot” daquele visto na primeira temporada, mas longo e mais ousado. 
O uniforme do Demolidor ganha um upgrade no quarto episódio, apresentando mudanças sutis, mas que conseguiram melhorar bastante seu visual (porém, ainda sem o DD).
Os episódios 5 e 6, infelizmente, não têm a mesma força dos episódios iniciais. É a partir daqui que a Elektra entra em cena e, diferente do Justiceiro, não achei que a personagem ficou bem adaptada. A atriz que a interpreta é muito boa, mas a personagem ficou por demais descaracterizada. Ainda não foi apresentada uma origem da personagem, mas o que já foi mostrado destoa muito do que está nos quadrinhos: a Elektra da série é praticamente um Dexter, e isso desde o início, ela não se torna assassina por conta de um trauma, quando Matt a conhece, ela não tem nenhuma doçura ou ingenuidade, o contrário do que se vê nas HQ’s (não conto com “O Homem sem Medo” porque, para mim, o Frank Miller vacilou ali). Porém, o problema não é exatamente a falta de fidelidade (vista até aqui) ao material original, e sim o fato de que a personagem é antipática demais – não acho que esta é uma Elektra que vale (pelo menos até o sexto episódio). 
Mas, no geral, estou achando a série ótima!

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