domingo, 29 de março de 2015

BOUND


Bound (Ligadas pelo desejo), de The Wachowski Brothers, com Jennifer Tilly, Gina Gershon e Joe Pantoliano 1996.


Primeiro filme dos irmãos Wachowski (agora irmãs). Um ótimo neo-noir que subverte de maneira bastante interessante a figura da femme fatale, unindo os gêneros hardboiled e lésbico da literatura pulp. O suspense é muito bem conduzindo, num crescendo que gera uma boa dose de aflição e ansiedade no telespectador. Um promissor início de carreira para aqueles que explodiriam cabeças alguns anos depois com Matrix, segundo filme dirigido pela dupla.

THIEF



Thief (Profissão: Ladrão), 1981, de Michael Mann, com James Caan.


James Caan considera esse o melhor papel de sua carreira: o que é bem possível. Embora mais marcado pela impetuosidade e violência de seu Sonny em O Poderoso Chefão, Caan tem sua melhor cena em Thief quando seu personagem, Frank, demonstra uma grande fragilidade e vulnerabilidade ao tentar convencer sua namorada a casar-se com ele, numa belíssima cena, com diálogos formidáveis, em que os dois conversam numa lanchonete quase vazia durante uma madrugada após uma calorosa discussão motivada pelo fato dele ter se atrasado para um encontro. Frank revela-lhe o que faz da vida, conta como foram seus dias na prisão e como essa experiência foi crucial para a formação de sua perspectiva de vida. Estreia auspiciosa de Michael Mann nos cinemas, é interessante observar como Thief representa uma transição entre os thrillers dos anos 70 e 80: um dos últimos exemplares dos thrillers autorais e dramáticos dos anos 70 e, em alguns aspectos, um dos primeiros exemplares dos thrillers de ação, mais explosivos, dos 80. Isso também se reflete na excelente trilha sonora da banda Tangerine Dream: uma sonoridade sintetizada que vai marcar os anos 80, mas que é, ao mesmo tempo, herdeira do rock progressivo dos anos 70. O estilo visual do filme é um deslumbre, um neo-noir que de certa forma antecipa elementos do que alguns chamam tech-noir (Exterminador do Futuro). As cenas noturnas chuvosas em que luzes de néon refletem nas calçadas são as mais belas.

quarta-feira, 18 de março de 2015

A GRANDE CHANTAGEM VS A GRANDE FARSA DO OSCAR 2015 A.K.A. BIRDMAN



A grande chantagem (The Big Knife), de Robert Aldrich, com Jack Palance, Ida Lupino e Rod Steiger, 1955.

Esse obscuro drama produzido durante os estertores do ciclo clássico dos filmes noir entrega sem presunção tudo o que o grande engodo Birdman promete com tanta afetação. 

• Famoso astro hollywoodiano que, insatisfeito com os rumos da sua carreira, depara-se com uma série de obstáculos ao decidir se reinventar e tentar se envolver em projetos de maior valor estético que poderiam torná-lo um ator mais relevante [✓]. 
• Crítica corrosiva à indústria cinematográfica hollywoodiana [✓]. 
• Ótimo roteiro; diálogos cínicos, cortantes e mordazes [✓].
• Direção magistral do grande Robert Aldrich; ação em tempo real passada quase inteiramente em um único cenário; uso de planos-sequências e de técnicas que simulam a representação de uma peça teatral [✓].
• Atuações soberbas [✓].
• Atmosfera tensa e claustrofóbica [✓]. 
• Esnobismo, pedantismo e pretensiosismo [✗].

• SPOILER
! Suicídio do protagonista motivado por questões realmente significativas e que provoca um verdadeiro impacto emocional no final do filme [✓].

MISSISSIPPI EM CHAMAS


Mississipi em chamas (Mississippi burning), 1988, de Alan Parker, com Gene Hackman, Willem Dafoe e Frances McDormand.

Além de ser um relato pungente sobre a questão do racismo no sul dos EUA nos anos 60, Mississipi em chamas é também um excelente thriller investigativo do tipo buddy movie, com as atuações excepcionais de Gene Hackman e Willem Dafoe. Foi bem interessante ter visto o filme depois de assistir True Detective, pois também acabou servindo como um ótimo complemento para a experiência que a série proporciona.

sexta-feira, 6 de março de 2015

O HORROR DE DUNWICH


The Dunwich Horror, 1970, de Daniel Haller, com Sandra Dee, Dean Stockwell, Ed Begley.

Clássica adaptação de Lovecraft. Relativamente fiel à novela, conservando a maioria dos principais elementos e não traindo, creio eu, o espírito original da obra ao introduzir elementos mais cinematográficos com o objetivo de agilizar a trama e torná-la mais atraente para o espectador (algo que, por exemplo, o recente The Whisperer in Darkness, 2011, não conseguiu fazer). Diálogos muito bons. Dean Stockwell faz um intrigante e sedutor Wilbur Whateley, pena que seu aspecto literalmente monstruoso não aparece. Seu irmão gêmeo é retratado basicamente como essa cabeça de medusa do cartaz em uma rápida cena quando sua invisibilidade acaba; mesmo destoando do "horror" original, considero essa uma representação acertada, dado o seu forte poder simbólico. Os efeitos para mostrar o "horror" praticamente inexistem, mas os recursos atmosféricos, que provavelmente era o que o baixo orçamento do filme permitia utilizar, foram muito bem empregados. Só achei tosquice demais a representação de um sabá hippie, apesar da psicodelia ser muito bem empregada em outros momentos para a criação de uma atmosfera propriamente lovecraftiana.

WHIPLASH

Ilustração de Bruno Seelig


Whiplash: Em Busca da Perfeição, de Damien Chazelle, com Miles Teller, J.K. Simmons e Melissa Benoist.


Têm-se falado o quanto Whiplash é um tremendo suspense disfarçado de drama de superação, mas creio ser também interessante pensá-lo como pertencente à tradição de histórias sobre contratos com o Diabo (como Fausto), mais especificamente sobre músicos que decidem vender a alma para alcançar o virtuosismo em sua arte (há algo do tipo em Coração Satânico e no nacional Tapete Vermelho, e essa parece ser uma lenda bem comum no mundo do blues, como mostra o cult A Encruzilhada), sendo assim, poder-se-ia talvez dizer que esse filme, para mim, um dos dez melhores de 2014, flerta igualmente com o horror.